30 de novembro de 2011

Como e quem ganha dinheiro nos jogos das Loterias Federais.


Estava pensando o que postar para fechar o mês de novembro... a chuva constante me ajudou a desenvolver o tópico:
Como e quem ganha dinheiro nos jogos das Loterias Federais.
A utopia de todo brasileiro é ganhar sem trabalhar, por isso acaba jogando em qualquer dos jogos quase que diários por todos os pontos lotéricos espalhados no país.
A verdade é única! Quer ganhar muito dinheiro sem trabalhar? Vire um político :)
Agora o segredo que poucos não percebem, e os que sabem são muito bem pagos para esquecer. Lápis e bilhete, ops! Nem tanto.
Com toda a capacidade de processamento da central de resultados (terceirizada) não seria possível saber quantos bilhetes estão contemplados instantes após o último número sorteado? Ou só o pczinho do Silvio Santos é capaz dessa proeza?
O por que da pergunta entenderá.
Muitos suspeitam de esquema para burlar o resultado, mexendo de alguma forma na confecção das bolas ou no coletor da bola; porém pode-se esquecer esta alternativa por questões óbvias! Auditoria técnica olha primeiro as coitadas das bolinhas numeradas e depois o mecanismo do globo.

Como um truque de mágico surge a melhor opção:
Não se altera o resultado mas sim a quantidade de premiados.
Quem já viu um ganhador de interior, não residente?
Quem já auditou todos os bilhetes descontados para zerar com os que deveriam ser informados logo após sorteio?
Para entender:
Quem já conferiu no circuito interno da casa lotérica o rosto do suposto ganhador? É tão fácil (internamente) acrescentar mais bilhetes premiados que passa-se despercebido pelos outros reais apostadores e pelos gerentes das Caixa Econômica Federal a quantidade verdadeira de felizardos.
Uma analogia pra facilitar a tese: um dono de restaurante sabe quantos comensais almoçaram num determinado dia? Conferindo o canhoto das comandas sim, porém, se eu aparecer com um canhoto de comanda desse dia e solicitar o “direito” ao carimbo que, acumulado me dá uma sobremesa, como o dono poderia duvidar de minha atitude?
Para o governo não interessa se existe ganhador ou não, já contabilizou 54% do arrecadado no caixa. Se algum “santo” necessita receber por um serviço que não pode ser declarado, a solução é; ser dono de um dos bilhetes premiados.
Qual entidade no país faz auditoria (cruza informação visual da casa lotérica com o “santo” que reivindica o prêmio)? Resposta: nenhuma!
Futebol, novela, pseudo-doença de político “querido” pelo povo, tudo serve para distrair o odor da sujeira jogada no ventilador (tradução: escândalo vazado na imprensa), além de notícia paga nos telejornais de “ganhador que teve a sorte grande” na casa lotérica tal, no grotão do município de tal estado – não duvidaria se a fantástica história não incentivasse mais pessoas depositarem esperanças no caixa único do governo e esquecesse dos problemas de gestão governamental.
Antes que descorde, pense bem e lembrará de alguém que jogou ou passou a jogar depois de um prêmio dado num comércio próximo a vizinhança. Ou de um boato de um falso ganhador da rifa de seu bairro ou cidade.
Números são exatos e não nascem durante a noite, debaixo da fronha; exeto para a ex primeira dama que presenteou o filhinho com uma “big” fazenda de gado com herança e algumas notas que guardava. A tá!
Não sou materialista, sou até minimalista e não conseguiria juntar 11 caminhões de transportadora após 8 anos de assistencialismo. Só consigo juntar bons pensamentos e boas crônicas para deitar e sobre o meu minguado travesseiro, dormir de consciência limpa. Coisa difícil de se ver nos noticiários ultimamente.
Deixo o áudio de Salomão Schvartzman* como exemplo de cultura.
* O jornalista Salomão Schvartzman é um dos mais respeitados apresentadores do rádio brasileiro apresenta crônicas diárias sobre temas que rodeiam o imaginário do ouvinte, da política ao sexo, da economia à música, do comportamento humano à poesia. É Bacharel em Ciências Políticas e Sociais entre outras qualidades.



Audio da coluna do site www.band.com.br 

22 de novembro de 2011

(Des)autoria na web: Luis Fernando Veríssimo e "A vergonha" que não é sua.

Começo com a conclusão:
Uma andorinha não faz o verão e não causa aborrecimento mas inúmeras podem até não serem veranistas mas que deixam um rastro de “titica”, isso é irrefutável. E para os que descordarem:
"Sobre todas as coisas há 3 pontos de vista: o teu, o meu e o correto." (Provérbio Chinês)  


Se tem algo com a qual eu recomendaria atenção na Internet, além da relativa segurança do anonimato e dos “cliques em qualquer coisa” seria com a autoria de textos lidos por aí. A rede é um festival de palavras sem dono ou talvez, com excesso deles.
Semana passada recebi uma corrente repassando um texto crítico ao Big Brother Brasil chamado “A Vergonha”, atribuído ao escritor Luis Fernando Veríssimo. Falsamente atribuído diga-se de passagem pois o texto não é dele.
Para quem duvida aí vão algumas provas incontestáveis:

Para quem já leu uma obra de Veríssimo fica evidente que não se trata dele. Sem querer desmerecer o autor fantasma, mas falta o estilo. Veríssimo é irônico e sutil, enquanto “A Vergonha”  possui linguagem falha e repetições consideradas vexatórias em uma dissertação de colegial.
Por exemplo: as reticências aparecem 13 vezes em um texto de pouco mais de 70 linhas. E dez delas estão em um único parágrafo.
Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar.... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... namorar... ou simplesmente dormir. 
Isso está muito longe de ser um estilo de escrita com pontuação especial, não?
E agora o brinde do negócio. Algo que um escritor jamais faria. Seria um sacrilégio. Pai Mei arrancaria os próprios olhos se tivesse de ler isso.
[…] Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB 
Apesar de todos esses “poréns”, ainda tem os argumentos moralistas e amplamente discutíveis dos quais não pretendo discorrer.
Não, não assisto BBB. Sou obrigada a usar filtros no Tweetdeck a partir de um certo horário porque começa uma enxurrada de hashtags relacionadas ao reality show. Não sei se a atual edição é essa putaria toda mesmo, mas convenhamos… o texto usa de argumentos rabugentos. Pesados demais para a sutileza de Veríssimo.
Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.”
Muitas pessoas acreditaram na suposta autoria do texto, deleitando-se por alguém de peso ter voz para dizer tudo aquilo que lhes parecia entalado na garganta. Pois bem, alguém escreveu. Porém não aquele a quem gostariam.
Muitos outros textos de autoria trocada pipocam todos os dias na rede. E uma vez colocado no ar e repassado de email em email eliminam-se as chances de um verdadeiro esclarecimento.
Uma vez me deparei com um texto atribuído a Herbert Vianna, mas na verdade a autora era a jornalista Rosana Hermann. Na época bastou uma visitinha ao Google para confirmar a autoria, e olha que a descoberta nem foi com esse link de falha épica postado há pouco. Mesmo assim continuam espalhando esses escritos crendo serem de autoria do cantor, tendo assim o mesmo destino de muitas outras crônicas por aí.
Muitos são vítimas desse tipo de coisa: Martha Medeiros, Arnaldo Jabor, Pasquale Cipro Neto. Aliás este último parece ter se acostumado à profusão de palavras não ditas, embora ainda se ocupe em desmenti-las quando possível.  
A INTERNET É UMA maravilha -e disso ninguém duvida, suponho. No entanto, se/quando é mal usada, não passa de uma grande bobagem. Uma das tantas provas disso é a livre circulação de textos "escritos" por Luis Fernando Verissimo, Arnaldo Jabor, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Luis Borges, Mário Quintana, Pasquale Cipro Neto etc.
Opa! Pasquale Cipro Neto sou eu! E, até prova em contrário, não fui informado de ser o "autor" de algumas bobagens que circulam por aí (continue lendo…)
Sério, eu gostaria de entender quem faz esse oba-oba autoral. De onde vem esses escritos de autoria duvidosa? Seria de quem concorda e gosta do que leu mas julgam que um joão-ninguém não seria bom o bastante para receber atenção massiva? Ou isso partiria de seu próprio autor, em um claro exemplo de baixa autoestima?
Mistérios da vida…

NOTA DE ESCLARECIMENTO: só pra mostrar como correntes e e-mails na maioria, não condizem com a verdade além de serem atemporais as tais notícias via web - montei este post após indesejáveis correntes na caixa de email.  Este post não é de minha autoria (http://www.limaoemlimonada.com.br/2011/02/desautoria-na-web-luis-fernando.html), usei fonte e padrão para te ludibriar :) Quem já conhece minha escrita foi “enganado” propositalmente. 

Deixo um alerta: tome cuidado ao ler, abrir, comprar, repassar e comentar pois o que possa parecer verídico talvez tenha uma malícia mesclada com incultura e desinformação que resultam numa “verdade” oriunda de um maléfico boato.

AGORA UMA ARTE ORIGINAL DE VERÍSSIMO:
Extraída da crônica "As Aventuras da Família Brasil"

17 de novembro de 2011

Lupi vai ao Senado para explicar denúncias.



O discurso do Ministro "pinóquio" Lupi dá nojo! O discurso é tão manipulado que se o "santo" Lupi tivesse estuprado uma menina de 9 anos, alegaria que o fez por sofrer de labirintite ou por perceber que a criança estava com frio por estar nua, ficar nu e ficar ralando corpo para esquentá-la.
Mas ladrão e mentiroso, depois que negocia o discurso com a Dilma, dá nisso: fala politicamente correta, transmite inocência, paparica o Lula, parece que é a presidenta dando esclarecimento, ou seja, campanha política.
Quantos ministros exonerados foram presos? Quantos serão? Mensalão prendeu alguém?
Estas audiências para esclarecimento não concluem nada. Que vergonha! Ministro ladrão até que é aceito tranquilamente no governo (não foge à regra), mas ministro mentiroso não dá!
Se o Lupi tentou ser criativo, pensado que iria ganhar um "Oscar" de interpretação nesse drama político, esqueceu de pagar bem aos "redatores" para encobrir a verdade. Se tivesse seguido a cartilha do Lula: não vi, não ouvi, não sei de nada; estaria tudo "certo" ainda.
Conforme dados do IBGE, o ex-presidente Lula tem 80% de carinho dos 100% de Corinthianos entrevistados (e não da população em todo Território Nacional - detalhe não divulgado). Por que será? 
Resposta lógica: manipulação de resultado para fins políticos. É fazer a população de idiota sempre quando tem algum escândalo no governo.
A única coisa que sei é que: pesquisa e resultado percentual é maquiado - não representa 100% a verdade.
Segue o resumo da audiência transcrito pelo Estadão e Agência Estado na data de 17 de novembro:
No Senado, Lupi admite viagem em avião, mas nega ter mentido. (Andréa Jubé, da Agência Estado, e Lilian Venturini, do estadão.com.br)
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, participa na manhã desta quinta-feira, 17, da audiência pública na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, na qual presta novas explicações sobre as denúncias de corrupção e tráfico de influência contra ele. Com uma postura contida, em contraste com o estilo irônico nas manifestações anteriores, Lupi admitiu ter viajado em um avião contratado pelo presidente da entidade Pró-Cerrado, Adair Meira. Enfatizou, porém, que não mentiu na Câmara, quando disse não ter contato Adair Meira,cuja ONG tem contratos milionários com o Ministério do Trabalho.
Nunca neguei que o conheço, não disse isso”, afirmou Lupi, que afirma ter sido mal interpretado. “O que me foi perguntado foi sobre a relação pessoal [com Adair]“, disse. O ministro admitiu ter viajado no avião King Air, durante uma agenda no Maranhão, em 2009, mas diz que a questão é saber quem pagou pelo aluguel da aeronave. “Meu erro pode não ter sido checar com a devida apuração que devia. O senhor, que a revista acusa de ter pago a aeronave, disse que não pagou, publicamente. Quero saber do que estou sendo acusado”, disse. Vídeo revelado nessa terça-feira, 15, pelo site da revista Veja, mostra o ministro com Adair, durante viagem oficial ao Maranhão, em dezembro de 2009. “Eu viajei com o ministro num trecho, isso eu confirmo”, afirmou Meira em entrevista ao Estadão.com.br.
Acompanhe abaixo os principais momentos da audiência:

12h40 – Lupi: “Só queria o direito de falar. A gente não pode condenar as pessoas sem prova. Não pode ter uma página inteira acusando e três linhas de defesa.” O presidente da comissão, senador Jayme Campos (DEM-MT) elogia a iniciativa do ministro de ter comparecido à audiência e encerrou a sessão.
12h32 – Lupi responde às questões da senadora Kátia Abreu (PSD-TO) sobre criações de confederações e convênios com entidades ligadas a setores da pesca. Segundo o ministro, as criações atendem à portaria federal e os convênios foram firmados de acordo com regras estabelecidas pelo Ministério da Pesca.
12h27 – Ministro discorda do senador Cristovam Buarque, que defendeu a saída do PDT do governo Dilma. “Nossa presença do governo é afirmação da causa trabalhista.” “Nosso papel, quanto partido, é ter a capacidade de permanentemente ser fiel à sua história. Temos um lado, o lado do trabalhador”, afirmou.
12h10 – Kátia Abreu (PSD-TO), última a fazer questões, expõe números do Condefat (Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador), que, segundo ela, indicam falhas de administração do ministério, como a ligação da pasta com entidades de fachada. Pede detalhes da prestação de contas do convênio com a ONG Pró-Cerrado. A senadora pede ainda esclarecimentos sobre o convênio firmado com uma ONG carioca e, por fim, questiona o que justificou a mudança de perfil do ministério de passar a dedicar mais recursos a ONGs e a retirar de governos estaduais e municipais. A senadora apresentou dados de que, em 2007, ONGs receberam R$ 17 milhões do ministério e, em 2010, receberam R$ 103 milhões.

11h51 – Inácio Arruda (PC do B-CE): “Estão exigindo a sua renúncia porque o senhor é a bola da vez. O senhor tem que cair de qualquer jeito. Consideramos que não podemos aceitar esse tipo de investida. Não se trata da vossa excelência. Se trata do alvo central [a presidente Dilma]. Precisamos ter capacidade de raciocinar nesse cenário”, diz o senador para quem a sucessão de denúncias tem como objetivo enfraquecer o governo da presidente Dilme ROusseff. “O que queremos é a ajuda do PDT para democratizar a mídia no Brasil. Não queremos regular ninguém. Permitir que todos possam dizer a sua verdade. Não quero ser editado na base da covardia.”
11h42 – O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), igual ao colega Pedro Taques, também defende a saída do PDT do governo. “Diante dessas dúvidas que surgem [contra o ministro], temos que pensar se não é hora do PDT apear-se do governo. É sintomático que o PT não esteja aqui [na audiência pública]“, afirmou. Não vejo porque estarmos dentro do governo. Deveria apear e não indicar ninguém”, disse o senador, que sugeriu postura independente do partido no governo Dilma. “Talvez seja essa uma solução. A saída nos permitiria reaglutinar a identidade que está perdida.”
11h34 – Ao senador Pedro Taques (PDT), que defendeu seu afastamento do cargo, Lupi respondeu: “Respeito a sua opinião. Dá ao teu amigo de lutar pela verdade dele. Só quero ter a chance. Não está o cargo em função aqui. Já marquei a história. Me dê o direito de mostrar à população que o que falam não corresponde à verdade”. Nesse momento, mais três senadores farão perguntas.
11h31 – Lupi responde às questões e diz que a aeronave não foi paga, mas foi cedida. Faz toda a agenda ministerial no gabinete do ministro. Temos coordenação de agenda. Quando vou no Estado, município, também tem atividade partidária e, nesse caso, o diretório cuida [da agenda]. “Meu cargo de confiança é da presidente. A qualquer momento qualquer um dos 37 ministros podem ser demitidos. Ao responder à senadora Marinor Brito (PSOL-PA) rebateu as críticas de usar o ministério para fins partidários: Às vezes a gente entra no carro e nem sabe quem está do seu lado dirigindo. Toda pessoa de vida pública pode estar sujeita a cumprimentar alguém fora da lei e isso ser usado contra a gente. Passei a ter mais cuidado.”
11h20 – Após o colega de partido, senador Acir Gurgacz (RO) falar e dar apoio ao ministro, o também pedetista Pedro Taques (MT) fala na audiência. “Com toda lealdade, entendo que o PDT deve se afastar do ministério porque nesse momento não detém mais a confiança para permanecer nesse ministério. É a minha opinião.” “Não sou jurista, agora politicamente entendo que esses fatos são graves e estão a merecer maior investigação. Com o respeito ao trabalho que o senhor exerceu, com respeito ao partido, mas politicamente não temos mais condições de exercer mais esse ministério. Não há democracia sem partido político, mas o mais importante é a defesa do patrimônio público. Tenho certeza de que vossa excelência respeita minha opinião, da mesma forma que respeito a sua, de não sair do ministério.”
11h13A senadora Marinor Brito (PSOL-PA) questiona se o ministro vai exonerar funcionários da pasta envolvidos nas denúncias. “O PSOL está alinhado não para demonizar, mas para exigir moralidade”, afirmou em tom exaltado.
11h06 – Senador Demóstenes Torres (DEM-GO) abre a segunda série de perguntas. O democrata lembra que o partido e o ministério já negaram o pagamento do avião usado na viagem em que teria sido acompanhado pelo dirigente da ONG Pró-Cerrado. O senador lê agora declarações do dirigente, Adair Meira, sobre a relação da entidade com o ministério e o contato que tem com Carlos Lupi. Por fim, pergunta se o ministro desconhece como são feitas as escolhas dos veículos onde ocorrem suas viagens. A senadora Marinor Brito (PSOL-PA) fará a pergunta seguinte.
10h52 – Lupi rebate a fala do senador Alvaro Dias (PSDB-PR) de que teria mentido. Segundo o ministro, ele não negou que tivesse andado em avião ligado ao presidente da ONG porque essa questão não foi formulada durante audiência na Câmara. “A minha resposta foi dada”, rebateu.
10h45 – O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) elogia o ministro por ter reconhecido que errou. “É natural que possa ter esquecido um nome. É importante esse esclarecimento e hoje, felizmente, a vossa excelência tem a oportunidade de esclarecer”. Após a fala dos três senadores, Carlos Lupi responderá a cada um deles.
10h33Alvaro Dias (PSDB-PR): Há aparelhamento visível [do PDT no Ministério do Trabalho]. Agora, a senadora Ana Amélia (PP-RS) questiona se houve uma ligação do ex-presidente Lula a Lupi e o que foi tratado na conversa. “O senhor diz que está sendo demonizado. Quem está querendo demonizá-lo?”, pergunta também. “Como é possível fiscalizar e avaliar esses convênios [são cerca de 600]?”, questiona a senadora, que defende que o modelo de gestão atual, que repassa dinheiro a ONGs, parece não funcionar adequadamente.
10h22 - Senador Álvaro Dias (PSDB-PR): “Vossa excelência está subestimando a inteligência dos brasileiros. Ouvimos o senhor dizer taxativamente que não viajou naquele avião. E vossa excelência confirma agora que viajou. Não importa se tem relação com o senhor Adair [presidente da ONG]. O fato concreto é que vossa excelência mentiu ao afirmar que não viajou naquele avião. Não importa saber quem pagou ou não. Configura o crime de responsabilidade. A permanência da vossa excelência [no ministério] diante desse fato compromete o governo e a presidente Dilma. Se a presidente pede para a vossa excelência permanecer, ela é cúmplice desses fatos. “
10h18 – Lupi: “Todos esses eventos foram publicitados [em referência a viagens feitas em 2009. Eu não tenho o que esconder". O ministro concluiu sua fala e agora é aberta a sessão para perguntas. O primeiro será o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
10h12 - Lupi: "O acusador nega a acusação: ele diz que não pagou o aluguel da aeronave." Ministro lê registros da agenda cumprida por ele em dezembro de 2009, quando teria andado no avião do presidente da ONG. "Toda essa estrutura utilizada, quando envolve agenda partidária, eu peço para o partido disponibilizar. Podem ter usado carro ou avião de quem não conhece. Meu erro pode não ter sido checar com a devida apuração que devia. O senhor, que a revista acusa de ter pago a aeronave, disse que não pagou, publicamente. Quero saber do que estou sendo acusado." "Quem tem que explicar o pagamento dessa aeronave, não sou seu. Eu fui de carona do Ezequiel [ex-secretario do Ministério do Trabalho Ezequiel Nascimento]. Eu não pedi a aeronave. E pela informação pública dada pelo senhor Adair, ele não pagou.”
10h02Lupi: “Eu não tenho nenhuma relação [com Adair Meira]. Não sou amigo dele. Foi o que eu respondi: ‘Com certeza já o encontrei’. Queria que explicasse o contexto [da resposta].” “O que me foi perguntado foi da relação pessoal”, insistiu. “Verifiquem as prestações de contas. Verifiquem como foi feita a entrada dessa entidade no ministério.” “Nunca neguei que eu não o conheço [Adair Meira], só que não tenho relação pessoal com ele.”
9h57 – Assim como fez na Câmara, na semana passada, Lupi lembrou que há deficiências de pessoal no Ministério do Trabalho e que não há qualquer sistema de favorecimento ao partido ao qual é filiado, PDT. Nesse momento, Lupi relê a pergunta feita a ele na Câmara sobre as relações dele com Adair Meira, presidente da entidade Pró-Cerrado, com quem teria viajado em avião particular em dezembro de 2009.
9h52 – Lupi disse que será breve para dar mais tempo aos senadores. “Precisamos fazer um debate em que damos o amplo direito de defesa ao cidadão”, afirma o ministro, que começou sua fala lembrando o papel da imprensa brasileira. Segundo ele, a imprensa não pode “condenar” quem quer que seja.
9h46 – O presidente da Comissão de Assuntos Sociais abre a audiência pública com o ministro Carlos Lupi, que terá trinta minutos para falar. Em seguida, a sessão é aberta para os senadores fazerem perguntas.

 Coletiva do Senador Álvaro Dias após a Comissão do Senado.

10 de novembro de 2011

Se aprovada, nova lei dos royalties vai diminuir receita dos estados produtores


Os royalties são tributos pagos pelas empresas aos municípios e estados de onde o petróleo é extraído, como o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. Eles são uma compensação financeira à sociedade pela exploração desses recursos não-renováveis.

A silenciosa disputa pelo petróleo – (Carta Capital 06/11/2011)
Às vésperas de eleições municipais, integrantes do Congresso evitam polêmica, mas Rio de Janeiro prepara reação à proposta de divisão aprovada no Senado.
Existe apenas um consenso entre os que discutem a nova distribuição dos royalties do petróleo, um assunto que deveria estar dominando as manchetes, mas continua como uma batalha silenciosa travada apenas no âmbito do Congresso.

Comecei quente né. Sou capixaba e infelizmente acredito em melhorias até o último momento – doença de brasileiro.
Sobre os Royalties comento:
ICMS de origem foi cortada no caso do petróleo;
Governo arrecada e devolve migalha e força cancelamento de contrato e arrecadação já firmado para esse ano;
Alto mar é da União mas o município que recebe e faz a logística tem o meio ambiente alterado além de alterar-se o percentual de habitantes, surgindo problemas diretos e indiretos;
Dividir não é o problema mas sim o desaparecimento do recursos adquiridos, principalmente no caixa único da União.
Até agora não foi dito ou auditado o destino dos royalties. Penso que deve ser aplicado diretamente em:
* construção de escolas profissionalizantes nas áreas relacionadas ao petróleo (técnico em petróleo, resgatista offshore, logística, alimentação industrial, meio ambiente, profissionalismo médico de offshore);
* construção de hospitais, equipes de resgate e projetos de reposição ambiental preventiva e corretiva (em caso de sinistro).

Não considero correto o uso dos royalties para:
* escolas normais, saúde básica, profissionais de saúde, esgoto, pavimentação, pagamento de funcionalismo, iluminação e segurança pública, habitação, cultura, pois são de responsabilidade do Estado e da União.

Percebo que se busca manter ou dividir os ovos da galinha de ouro mas em momento nenhum se questiona o real destino do montante arrecadado. É uma versão da DRU com ênfase exclusiva ao ouro negro.

Outro assunto que deixo publicado é de autoria do Serra - A democracia da competência (Estadão 10/11/2011)
Não tenho publicado pois meu HD com meus pré-textos, assuntos e outras coisas passou para um mundo paralelo, antes do back-up mensal, ao qual não tenho acesso. Boa leitura!
É preciso profissionalizar o estado brasileiro. Para isso é necessária a tal “vontade política”, que é a disposição para mudar o que está errado. Mas só ela não basta: é preciso também criar as condições da profissionalização. Começo relatando um caso e chego a uma proposta que, entendo, contribuiria para modernizar o país e democratizar as relações entre estado e sociedade à medida que estimularia a competência no serviço público e dificultaria os assaltos ao erário.
Quando eu era ministro da Saúde, recebi um senador, homem sério e combativo.
Serra, como você sabe, o cargo de coordenador da FUNASA no meu estado está vago. Eu queria lhe sugerir um grande técnico, correto e com experiência.
Olha, não posso nomear alguém por esse caminho. Há os governadores, senadores, grupos de deputados… Se eu atender a um, vou ter de atender aos outros, que nem sempre trariam bons nomes como o seu. Além disso, eu não posso por alguém num cargo importante que dependa de um político.
O cara é muito bom!
Acredito! Mas não me diga quem é. Deixe que o Mauro Ricardo [então presidente da Funasa] me apresente a lista de nomes que está levantando. Se o seu técnico for bom como você diz, vai ser o escolhido.
Esse diálogo aconteceu de verdade, e o senador, até hoje meu amigo, compreendeu. A Funasa é a Fundação Nacional de Saúde, responsável, durante minha gestão, pelas ações de prevenção e controle de doenças, de saneamento básico e ambiental e de assistência à saúde dos povos indígenas. Seu papel é importante na grande maioria dos estados. Era, havia anos, vítima de uma forma peculiar de preenchimento das gerências regionais. O grupo político ligado ao governo federal que perdia a eleição local recebia, como consolo, a chefia do órgão no estado. Isso criava conflitos políticos e de coordenação entre a Funasa, a secretaria estadual e as secretarias municipais de Saúde. Nem sempre o Ministério da Saúde mandava na Funasa do estado. E o que dizer, então, da malversação de dinheiro público?
Além de não aceitar mais indicações, prestigiar servidores experientes e promover frequentes auditorias, tomamos uma providência inédita: dois decretos do presidente FHC exigindo que os gerentes regionais fossem servidores do Ministério da Saúde com nível superior, que ocupassem cargo em comissão ou função de confiança por mais de cinco anos e que tivessem, no mínimo, dois anos de chefia. Assim, o profissionalismo foi vencendo o clientelismo. A Funasa mudou de cara e melhorou muito seu desempenho.
Sabem qual foi uma das primeiras providências do governo do PT, já em março de 2003? A revogação dos dispositivos dos decretos que vedavam o uso político da instituição. Afinal, era preciso acomodar os membros do próprio partido e dos aliados — pessoas, na sua maioria, estranhas ao serviço público e ineptas técnica e gerencialmente.
Assim, a Funasa virou o lugar geométrico dos escândalos mais visíveis na área da Saúde. Houve fraudes até no atendimento à saúde indígena. Mas em vez de retomar o controle do órgão, o governo atual decidiu retirar de seu âmbito a área de epidemiologia e controle de doenças e da saúde indígena. Em nove anos, assistiu-se à alta rotatividade do loteamento de seus cargos e à destruição de uma instituição responsável por grandes avanços na saúde pública brasileira.
Outras experiências dramáticas na área da Saúde foram os loteamentos políticos de duas instituições que criamos — a Agência de Vigilância Sanitária e a Agência Nacional de Saúde, voltada para a regulação dos seguros e planos de saúde. O Senado referendou a indicação pelo Executivo, de diretores com perfil técnico e gerencial. Na época, ninguém procurou o Ministério da Saúde ou a Casa Civil para sugerir nomes para as duas agências. Não havia mercado de indicações.
O poder de um diretor de agência é imenso, pois desfruta de estabilidade durante seu mandato. Mas o governo Lula mudou o padrão, e várias diretorias foram sendo preenchidas por “representantes” de partidos. O caso talvez mais simbólico de nomeação esdrúxula foi o do atual e controvertido governador de Brasília, Agnelo Queiroz. Depois que perdeu a eleição para o Senado em 2006, descolou um cargo na diretoria da Anvisa, até se candidatar ao governo, em 2010.
É preciso acabar com o loteamento dos cargos de livre nomeação, os chamados cargos em comissão — que, na administração federal direta, chegam a 24 mil. A solução não consiste em substituir esses cargos em comissão por cargos concursados, que criariam uma rigidez excessiva, nem apenas em reduzir o seu número, o que, aliás, precisa ser feito.
O meio mais adequado seria o da certificação, como fez a Funasa no governo FHC, fixando requisitos mínimos para os ocupantes de todos os cargos de livre provimento. Por exemplo, os cargos gerenciais de nível operacional deveriam ser reservados a funcionários de carreira do próprio órgão, e, entre eles, os mais preparados. Além de valorizar os servidores públicos, isso garantiria que as mudanças de governo não afetassem o dia-a-dia da administração.
Para os cargos de direção de maior nível hierárquico, seria admitida a contratação de pessoas externas ao serviço público, mas com exigências de formação profissional compatível e experiência anterior em cargos gerenciais.
Enfim, haveria uma matriz de dupla entrada, relativamente ampla, de cargos e requisitos. Essas regras seriam aplicadas mesmo nos casos de provimento não tão livre (pois exigem aprovação do Senado), como as agências reguladoras.
As novas normas, estendidas a estados e municípios e implantadas de forma gradual, dinamizariam e melhorariam o sentido de muitos cursos técnicos e universitários, que não oferecem bons lugares no mercado de trabalho. Os cursos voltados à administração pública passariam a ser mais do que a bola da vez: fariam parte da profissionalização do estado brasileiro, ou seja, da melhoria na prestação de serviços a quem, de fato, paga a conta: o povo brasileiro.

1 de novembro de 2011

Belo Monte, nosso dinheiro e o bigode do Sarney - jornalista Eliane Brum (Revista Época, 31/10/11 – 10:47h)

Um assunto que deveria ser de interesse de todo brasileiro trabalhador escravo desse governo de “Capitanias Hereditárias”.
Coloco na integra, antes que “apaguem”, a matéria da jornalista Eliane Brum (31/10/11 – 10:47h) da Revista Época, Belo Monte, nosso dinheiro e o bigode do Sarney, pelo fato de não ter mais nada a acrescentar. E, por respeito ao senador (link como direito de resposta).
Sei que poucos gostam de ler, principalmente sobre política e textos grandes. Classifico como doença do desinteresse causado pela falta de culto à leitura, por novelas, por salas de bate papo e por twitters.
Parabenizo aos que se preocupam com o futuro do país e da sociedade, e com o verdadeiro poder do conhecimento para nossas vidas. Sugiro leitura de Paulo Sanda sobre os problemas ambientais de Belo Monte em www.ecodebate.com.br
Nota pessoal: Pena que no dia de finados ainda não dá para comemorar a lembrança dos que já morreram. Faltam muitos!

Belo Monte, nosso dinheiro e o bigode do Sarney
Um dos mais respeitados especialistas na área energética do país, o professor da USP Célio Bermann, fala sobre a “caixa preta” do setor, controlado por José Sarney, e o jogo pesado e lucrativo que domina a maior obra do PAC. Conta também sua experiência como assessor de Dilma Rousseff no Ministério de Minas e Energia

ELIANE BRUM Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de um romance - Uma Duas (LeYa) - e de três livros de reportagem: Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).
E co-diretora de dois documentários: Uma História Severina e Gretchen Filme Estrada.
elianebrum@uol.com.br  ,@brumelianebrum 

Se você é aquele tipo de leitor que acha que Belo Monte vai “afetar apenas um punhado de índios”, esta entrevista é para você. Talvez você descubra que a mega obra vai afetar diretamente o seu bolso. Se você é aquele tipo de leitor que acredita que os acontecimentos na Amazônia não lhe dizem respeito, esta entrevista é para você. Para que possa entender que o que acontece lá, repercute aqui – e vice-versa. Se você é aquele tipo de leitor que defende a construção do maior número de usinas hidrelétricas já porque acredita piamente que, se isso não acontecer, vai ficar sem luz em casa para assistir à novela das oito, esta entrevista é para você. Com alguma sorte, você pode perceber que o buraco é mais embaixo e que você tem consumido propaganda subliminar, além de bens de consumo. Se você é aquele tipo de leitor que compreende os impactos socioambientais de uma obra desse porte, mas gostaria de entender melhor o que está em jogo de fato e quais são as alternativas, esta entrevista também é para você.

Como tenho escrito com frequência sobre a mega usina hidrelétrica de Belo Monte, por considerar que é uma das questões mais relevantes do país no momento, observo com atenção as manifestações dos leitores que comentam neste espaço ou em redes sociais como o twitter. Anotei as principais dúvidas para incluí-las aqui e assim colaborar com o debate.

Desta vez, propus uma conversa sobre Belo Monte a Célio Bermann, um dos mais respeitados especialistas do país na área energética. Bermann é professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), com doutorado em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Unicamp. Publicou vários livros, entre eles: “Energia no Brasil: Para quê? Para quem? – Crise e Alternativas para um País Sustentável” (Livraria da Física) e “As Novas Energias no Brasil: Dilemas da Inclusão Social e Programas de Governo” (Fase). Ex-petista, ele participou dos debates da área energética e ambiental para a elaboração do programa de Lula na campanha de 2002 e foi assessor de Dilma Rousseff entre 2003 e 2004, no Ministério de Minas e Energia. Célio Bermann foi também um dos 40 cientistas a se debruçar sobre Belo Monte para construir um painel que, infelizmente, foi ignorado pelo governo federal.

Vale a pena ouvir o professor a qualquer tempo. Mas, especialmente, depois de uma semana dramática como a passada. Na quarta-feira (26/10), o julgamento da ação movida pelo Ministério Público Federal reivindicando que os índios sejam ouvidos sobre a obra, como determina a Constituição, foi interrompida e adiada mais uma vez no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília. Na mesma quarta-feira, chamado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) para explicar por que não suspendeu as obras de Belo Monte, o Brasil não compareceu, desrespeitando o organismo internacional e exibindo um comportamento mais usual em ditaduras. Em reportagem publicada em 20/10, o Estadão denunciou que, como retaliação por ter sido advertido sobre Belo Monte, o Brasil deixou de pagar sua cota anual como estado-membro.

Na quinta-feira (27/10), centenas de pessoas, entre indígenas, ribeirinhos e moradores das cidades atingidas, ocuparam pacificamente o canteiro de obras de Belo Monte, no rio Xingu, pedindo a paralisação da construção da usina. Foram expulsos por ordem judicial. Enquanto o canteiro de obras era ocupado por uma população invisível para o governo de Dilma Rousseff, o cineasta Daniel Tendler apresentava no Seminário Nacional de Grandes Barragens, no Rio de Janeiro, o projeto de uma mega produção cinematográfica que se propõe a documentar as obras de Belo Monte por cinco anos. O projeto é comandado pela LC Barreto, a produtora da poderosa família Barreto, a mesma que fez “Lula, O Filho do Brasil”. Tendler, aliás, foi um dos roteiristas do filme sobre a vida do ex-presidente. Entre as repercussões da mega produção cinematográfica sobre a mega obra do PAC no twitter, destacou-se uma: “Os Barreto estão para o cinema nacional como os Sarney para a política”.

Ainda na semana passada, o governo federal publicou um pacote de sete portarias ministeriais com o objetivo de “destravar a concessão de licenças ambientais no país para acelerar grandes empreendimentos, como rodovias, portos, exploração de petróleo e gás, hidrelétricas e até linhas de transmissão de energia”. Ou seja: o governo caminha para anular as conquistas socioambientais obtidas na redemocratização do país.

Dias antes, em 26/10, o Senado havia aprovado um projeto de lei que retira o poder do IBAMA para multar crimes ambientais, como desmatamentos. Se não for vetado pela presidente, o poder de multar passará para estados e municípios, sujeito às pressões locais já bem conhecidas. A aprovação do projeto aconteceu quatro dias depois de mais um assassinato no Pará: João Chupel Primo, mais conhecido como João da Gaita, foi morto com um tiro na cabeça, depois de denunciar ao Ministério Público Federal, em Altamira, uma rota de desmatamento ilegal na reserva extrativista Riozinho do Anfrísio e na Floresta Nacional Trairão, área do entorno de Belo Monte. Como de hábito, o Congresso decide os rumos do país desconectado com o que acontece na vida real para além do aquário brasiliense.

No momento histórico em que recursos como água e biodiversidade se consolidam como o grande capital de uma nação, o Brasil, um dos países mais beneficiados pela natureza no planeta, corre em marcha à ré. O cenário que você acabou de ler tem no centro – como obra simbólica e estratégica – Belo Monte, a maior obra do PAC. A seguir, parte de minha conversa de quase três horas com o professor Célio Bermann, em sua sala no Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP.    

- Por que o senhor, assim como outras pessoas que estudam o setor, afirma que a área energética do país é uma “caixa preta”. Afinal, que caixa preta é essa?
Célio Bermann – A política energética do nosso país é uma caixa preta e é mantida dessa forma por uma série de razões. Primeiro, porque a baixa escolaridade da população brasileira não permite, por exemplo, que o leitor da Época entenda o que é terawatts/hora. Mas seria interessante que a população toda tivesse conhecimento e pudesse, com informação, começar a definir junto com empresas e governo os rumos que são mais adequados. Acho que a academia tem um papel fundamental nesse processo. Eu, particularmente, tento, na área do meu conhecimento, procurar as populações tradicionais, mostrar o que é uma usina hidrelétrica, por que alaga quando você interrompe o fluxo, o que é uma barragem, e como isso vai acabar transformando a vida da comunidade. Acho importante que a academia preste esse tipo de informação, já que governo e empresas não o fazem.

- Sim, mas por que o setor energético tem sido uma caixa preta por décadas?
Bermann - A governabilidade foi encontrada através de uma aliança que mantém o círculo de interesses que sempre estiveram no nosso país. É a mesma turma que continua na área energética. E isso é impressionante. A população não participa do processo de decisões. Não existem canais para isso. Ainda no governo FHC, durante a privatização, o governo criou um Conselho Nacional de Política Energética. Nos dois mandatos de FHC participavam os dez ministros, mas havia um assento para um representante da academia e um da chamada sociedade civil. Eles sentavam, discutiam as diretrizes energéticas de uma forma aparentemente saudável, mas, no frigir dos ovos, na prática não mudava nada. De qualquer forma, havia pelo menos esse sentido de escutar. Isso, com Lula, acabou. O resultado do governo "democrático popular" do Lula, nos dois mandatos, e da Dilma, agora, é a negação de escutar outros interesses que não sejam aqueles que sempre estiveram junto ao poder. A própria Dilma, no início do governo Lula, tinha uma dificuldade muito grande de ouvir, de sentar-se com os movimentos sociais e ouvir. Eu tive a oportunidade de vivenciar o primeiro mandato do Lula, lá, em Brasília.

- E qual era o seu papel?
Bermann – Era apagar fogo, este era o meu papel...

- Mas, oficialmente...
Bermann - O meu papel era tentar amenizar um pouco os conflitos, mas, oficialmente, eu fui trabalhar com a Dilma como assessor ambiental no Ministério de Minas e Energia. A idéia inicial era criar uma Secretaria de Meio Ambiente dentro do ministério. Era a época em que tínhamos a Marina (Silva) falando em transversalidade, então havia um ambiente extremamente propício para aparar arestas e ver se a coisa poderia caminhar de uma forma mais adequada. Achei, então, que a melhor forma de fazer isso não era criar um lugar dos ambientalistas no ministério, mas colocar em todas as secretarias do ministério gente que pensasse o meio ambiente. Mas acabei ficando um ano lá em Brasília. Mesmo assim, foi extremamente interessante, porque me permitiu sair da academia e ter, na prática, a percepção de como as coisas se dão no dia a dia dentro do governo.

- E como as coisas se dão no dia a dia dentro do governo?
Bermann – É um horror. É uma lentidão. É um imobilismo. É incrível a capacidade da máquina de governo de fazer de conta que faz sem estar fazendo absolutamente nada. Eu falo isso com todos os pontos nos “is”. No início do governo se buscava um entendimento entre os chamados "ministérios fins" e o meio ambiente. Transportes, por causa da construção de estradas e portos, e Minas e Energia, por causa da atividade mineral, metalúrgica e energética, e as questões ambientais que são intrínsecas a essas atividades. Houve uma boa intenção de levar adiante a possibilidade do estabelecimento de pontos comuns. Fizemos, então, um acordo entre Ministério de Minas e Energia e Ministério do Meio Ambiente em função da definição de "pontos comuns", de procurar verificar onde poderíamos estabelecer alguns consensos. Era um documento em que se definia uma agenda energética e ambiental comuns aos dois ministérios. Se bem me lembro, o documento foi concluído em setembro de 2003. Mas as duas ministras só foram assinar em 31 de março de 2004.

- Por quê?
Bermann – Boa pergunta. Por quê? Boas intenções... mas por quê? Eu realmente não consigo definir exatamente se era uma questão de veleidade... não sei. No final de 2003 a Marina começou a perceber a dificuldade de ela continuar, e o Lula, daquele jeito dele, deixando a coisa acontecer. Naquele momento, o governo poderia ter tido uma agenda comum, um processo extremamente positivo de entender que existem usinas hidrelétricas que não devem ser construídas.
Em 2003, a Dilma estava feliz porque tinha conseguido afastar a turma do Sarney do setor elétrico".
Célio Bermann
- Imagino que não era fácil ser assessor ambiental da Dilma Rousseff...
Bermann -
É, foi uma coisa meio... difícil. Como falei, eu tinha uma relação particular com os movimentos sociais e estava mais numa situação de bombeiro. Vou te contar uma coisa, como referência. Eu encontrei a Dilma na posse do (físico) Luiz Pinguelli Rosa, no Rio de Janeiro, como presidente da Eletrobrás. Ela estava extremamente satisfeita, alegre, contente, porque tinha conseguido, politicamente, afastar a turma do (José) Sarney da seara energética. (Luiz Pinguelli Rosa deixaria o cargo em 2004, a pedido de Lula, que precisava colocar alguém ligado ao PMDB e a José Sarney.) Para você ver. Na época, o (José Antonio) Muniz (Lopes) era diretor da Eletronorte... e depois tornou-se presidente da Eletrobrás (de 2008 a 2011). 

- O José Antonio Muniz Lopes, um homem da cota do Sarney, é um personagem longevo nessa história de Belo Monte... Só para situar os leitores, em 1989, no último ano do governo Sarney, ele era diretor da Eletronorte e foi no rosto dele que a índia caiapó Tuíra encostou seu facão por causa da proposta de Belo Monte (então chamada de Kararaô), naquela foto histórica que correu mundo. O tal do Muniz já estava lá... Depois de deixar a presidência da Eletrobrás, no início deste ano, continuou lá, agora como diretor de Transmissão da Eletrobrás...
Bermann – Pois então. Naquela época, em 2003, era ele o diretor da Eletronorte que a Dilma tinha ficado feliz por ter conseguido afastar. Por isso que eu falo que não é o governo Lula, é o governo Lula/Sarney. E agora Dilma/Sarney. Constituiu-se um amálgama entre os interesses históricos do superfaturamento de obras, sempre falado, nunca evidenciado. Não se trata de construir uma usina para produzir energia elétrica. Uma vez construída, alguém vai precisar produzir energia elétrica, mas não é para isso que Belo Monte está sendo construída. O que está em jogo é a utilização do dinheiro público e especialmente o espaço de cinco, seis anos em que o empreendimento será construído. É neste momento que se fatura. É na construção o momento onde corre o dinheiro. É quando prefeitos, vereadores, governadores são comprados e essa situação é mantida. Estou sendo muito claro ao expor a minha percepção do que é uma usina hidrelétrica como Belo Monte. 

- No momento em que o senhor encontrou a Dilma, logo na constituição da equipe do primeiro mandato de Lula, o senhor conta que ela estava feliz porque tinha conseguido tirar a turma do Sarney do comando da área energética. O que aconteceu a partir daí?
Bermann - A pergunta é: tirou mesmo?

- E qual é a resposta?
Bermann - Naquele momento, manter esse pessoal à distância era estratégico para reconstruir as relações e viabilizar algumas das diretrizes que tinham sido objeto da proposta de governo. O que aconteceu é que a vida dessa situação (de afastamento) foi extremamente curta devido às relações de poder. Eles não gostaram de se sentir afastados. E eu suponho que a percepção do problema da governabilidade no governo Lula foi uma ação desses setores que tinham percebido que estavam longe da teta da vaca e que não podiam continuar assim. Qual era o jeito de fazer? PMDB era oposição. Vamos conversar... E aí se reacomodam as questões. Eu não digo que seja um grupo de ladrões mercenários. Não é isso que está em jogo. Mas essa capilaridade do Sarney permite manter o usufruto do poder. Eu não sou psicólogo para entender o que o senhor Sarney pensa quando vê o Muniz voltar para o governo, ou quando se encontra diante da incapacidade técnica do senador Edison Lobão ao conduzir o Ministério de Minas e Energia no governo Lula e agora no de Dilma. Não há lógica para isso. Vou dizer de novo: não é possível a gente acreditar na capacidade gerencial de um governo que se submete a esse tipo de articulação política, colocando uma pessoa absolutamente incapaz de entender o que é quilowatt, quilowatt/hora. De ir a público sem saber a diferença entre tensão em volts e energia em quilowatts/hora. 

- O senhor está falando do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão?
Bermann- Edison Lobão. 

- E Belo Monte ocupa que lugar nesse jogo?
Bermann - É a oportunidade de se fazer dinheiro e de se reconstituir as relações de poder. Essa obra tinha sido sepultada em 1989, por conta da mobilização da população indígena, e voltou à tona no governo Lula, aprovada pelo Congresso (em 2005) com o discurso de que era um novo projeto. 
“O valor de Belo Monte aumentou em mais de R$ 20 bilhões em apenas cinco anos. E deverá ser maior ainda. Sem contar que 80% do financiamento é dinheiro público"
Célio Bermann
- A ameaça de retomar Belo Monte esteve presente também durante o governo Fernando Henrique Cardoso, mas só no governo Lula saiu mesmo do papel, o que ninguém imaginava que acontecesse, devido ao apoio massivo dos movimentos sociais da região à campanha de Lula. O senhor acha que o fato de Belo Monte ter saído do papel tem a ver com a denúncia do Mensalão, em 2005, e a recomposição das forças políticas para a eleição de 2006?
Bermann - Não tenho a mínima ideia. Mas vamos falar em cifras, agora. Em 2006 o projeto foi anunciado com um custo de R$ 4,5 bilhões. Você sabe, as cifras avançaram violentamente. Antes de ir para o leilão, a usina foi avaliada em R$ 19 bilhões. Foi feito o leilão e se definiu um custo fictício de geração de energia elétrica de R$ 78 o megawatt/hora.

- Por que fictício?
Bermann - Fictício porque esse custo não remunera o capital investido. É por isso que várias empresas caíram fora do empreendimento, sob o ponto de vista da geração da energia elétrica. Mas as grandes empreiteiras estão presentes, porque não é na venda da energia elétrica, mas sim na obra que se dá uma parte significativa da apropriação da renda. Com o consórcio constituído com 50% entre Eletrobrás e Eletronorte, as empreiteiras voltaram para fazer a obra. A elas interessa a obra – e não ficar vendendo energia elétrica. Essa situação é entendida pelos dirigentes, pelo governo, como normal. Para o governo federal, é uma parceria público-privada que está dando certo. Em que termos? A obra hoje está oficialmente orçada em R$ 26 bilhões. Imagine, de R$ 4,5 bilhões para R$ 26 bilhões...

- Em cinco anos, o valor da obra avançou em mais de R$ 20 bilhões?
Bermann – Oficialmente está hoje orçada em R$ 26 bilhões. Mas existem estimativas de que não vai sair por menos de R$ 32 bilhões. Isso sem falar em superfaturamento.

- Deste valor, quanto sairá do BNDES, ou seja, do nosso bolso?
Bermann – Oitenta por cento da grana para isso é dinheiro público. O que estamos testemunhando é um esquema de engenharia financeira para satisfazer um jogo de interesses que envolve empreiteiras que vão ganhar muito dinheiro no curto prazo. Um esquema de relações de poder que se estabelece nos níveis local, estadual e nacional – e isso numa obra cujos 11.200 megawatts de potência instalada só vão funcionar quatro meses por ano por causa do funcionamento hidrológico do Xingu. Então, é preciso entender que a discussão sobre a volta da inflação não se dá porque está aumentando o preço da cebola, do tomate, do leite... É por causa da volúpia de tomar recursos públicos que será necessário fabricar dinheiro. O ritmo inflacionário vai se dar na medida em que obras como Belo Monte forem avançando e requerendo que se pague equipamento, que se pague operários, que se pague uma série de coisas e também que se remunere com superfaturamento.
Com Belo Monte, ganham as empreiteiras e os vendedores de equipamentos. E ganham os políticos que permitem que essa articulação seja possível"
Célio Bermann
- Quem perde a gente já sabe. Agora, quem ganha, além das empreiteiras envolvidas na obra?
Bermann -
Há as pessoas que ganham pela obra - fabricantes de equipamentos, empreiteiras. E há quem ganhe não financeiramente, mas politicamente, por permitir que essa articulação seja possível, porque é esse pessoal que vai bancar a campanha para o próximo mandato. É a escolinha ou o posto de saúde que eventualmente aquele vereador, aquele prefeito vai dizer: "É obra minha!". É isso que está em jogo. É dessa forma que a cultura política se estabelece hoje no nosso país. Isso precisa mudar. Como? É complicado.

- O senhor costuma usar a expressão “Síndrome do Blecaute” para se referir ao pânico da população de ficar à luz de velas devido a um apagão energético. Acredita que essa “síndrome” é manipulada pelo governo federal e pelos grandes interesses empresariais para emprestar um caráter de legitimidade a megaobras como Belo Monte?
Bermann – O que eu tenho chamado de "Síndrome do Blecaute" conduz à legitimação de empreendimentos absolutamente inconsistentes. Belo Monte, como foi provado pelo conjunto de cientistas que se debruçaram sobre o tema (painel dos especialistas), é uma obra absolutamente indesejável sob o ponto de vista econômico, financeiro e técnico. Isso sem falar nos aspectos social e ambiental. Mas se dissemina uma idéia do caos e, hoje, há 77 projetos de usinas hidrelétricas somente na Amazônia que utilizam a "Síndrome do Blecaute" para se viabilizarem. O fato de hoje o aquecimento global dominar a mídia e o senso comum, assim como a própria academia, ajuda a mostrar a hidroeletricidade como uma grande maravilha, independentemente do lugar em que a usina vai ser construída e dos impactos que ela vai causar. Mas o que é preciso compreender e questionar? Hoje, seis setores industriais consomem 30% da energia elétrica produzida no país. Dois deles são mais vinculados ao mercado doméstico, que é o cimento e a indústria química. Mas os outros quatro têm uma parte considerável da produção para exportação: aço, alumínio primário, ferro ligas e celulose.

- As chamadas indústrias eletro intensivas...
Bermann – Isso. Eu não estou defendendo que devemos fechar as indústrias eletro intensivas, que demandam uma enorme quantidade de energia elétrica a um custo ambiental altíssimo. Mas acho absolutamente indesejável que a produção de alumínio dobre nos próximos 10 anos, que a produção de aço triplique nos próximos 10 anos, que a produção de celulose seja multiplicada por três nos próximos 10 anos. E é isso que está sendo previsto oficialmente.

- O que poucos parecem perceber e menos ainda questionam, quando essas metas são comemoradas, é a forma como o Brasil está inserido no mercado internacional em pleno século XXI. O quanto o fato de nossa economia estar baseada na exportação de bens primários tem a ver com a necessidade de grandes hidrelétricas?
Bermann – Desde a ditadura militar, passando pela redemocratização, pelos sucessivos governos até FHC, tem sido assim. Nós imaginávamos que, com Lula, essa questão ia ser reorientada. Porque o programa de governo em que eu me envolvi preconizava a necessidade dessa mudança. E o que aconteceu? Se você comparar os dados de 2001 com os dados de 2010, vai constatar que a economia brasileira está se primarizando cada vez mais. Isto é: cada vez mais são produzidos no Brasil bens industriais primários, sem agregação de valor. E são justamente os bens primários que consomem muita energia e geram pouco emprego. Além disso, satisfazem uma demanda marcada pelo consumismo. E o Brasil se mostrou incapaz de dizer: "Não, nós não vamos fazer isso".

- E depois esses produtos retornam para o Brasil, via importação, com valor agregado...
Bermann – É. Eu sempre chamo a atenção para o fato de que, do alumínio primário que o Brasil produz, 70% é exportado. E o alumínio consome muita energia. Para se pegar um barro vermelho, que é a bauxita, e transformá-la em alumínio, é preciso um processo de produção extremamente devastador sob o ponto de vista ambiental. Há um primeiro refino para obter a alumina, que é um pó branco. Esse pó branco tem como consequência ambiental uma borra chamada de “lama vermelha”. Um ano atrás, na Europa, na Hungria, houve uma catástrofe em função do rompimento de uma barragem que continha essa lama vermelha e tóxica. Ela se espalhou pelo Rio Danúbio e foi um horror. E cada vez mais se faz isso no nosso país – e, claro, não se faz mais isso nos países centrais. Isso não está acontecendo agora no Brasil, está acontecendo desde os anos 70.
“Com Lula – e agora com Dilma – ocorreu a reprimarização da economia, com exportação de bens primários sem valor agregado, numa subordinação ao mercado internacional"
Célio Bermann
- Houve acentuação desse processo no governo Lula e agora no de Dilma Rousseff?
Bermann – O que acontece a partir de Lula é o que eu tenho chamado de "reprimarização da economia". Nós já tivemos uma época em que a economia dependia basicamente da produção de bens primários: café, açúcar e também alguns bens industriais primários. Depois, tivemos Getúlio Vargas, Juscelino (Kubitschek), e nos anos 50 houve a substituição das importações com a vinda da indústria pesada. Aquele período marca um processo acelerado de industrialização da economia brasileira em que se buscava um desenvolvimento tecnológico para acompanhar o ritmo internacional. Agora, vivemos a reprimarização da economia. E não é uma questão do governo, simplesmente. O governo poderia tornar essa questão pública, dar condições para que a população compreendesse e debatesse o que está em jogo, e isso pudesse servir como base de apoio para uma tomada de decisão do tipo: "Olha, Alcoa (corporação de origem americana com grande presença no Brasil, é a principal produtora mundial de alumínio primário e alumínio industrializado, assim como a maior mineradora de bauxita e refinadora de alumina), vocês não vão continuar aumentando a produção aqui no Brasil. Procurem um outro lugar. A produção de energia elétrica gera um problema ambiental enorme, um problema social enorme, e nós vamos priorizar a demanda da população”. Mas, infelizmente, isso não é feito.

- Mas essa obstinação do governo Lula, e agora do governo Dilma, em fazer Belo Monte, mesmo já tendo um prejuízo de imagem aqui e lá fora, mesmo tendo mais de uma dezena de ações judiciais contra a obra movidas pelo Ministério Público Federal, fora as outras... Essa obstinação se dá apenas por causa do esquema de governabilidade, do esquema político para as eleições a curto e médio prazo, ou é por mais alguma coisa?
Bermann – Isso já não te parece plausível? Ou você acha que tem alguma coisa meio doentia, que precisa ser explicada? (risos)

- Doentia, não sei. Mas eu gostaria de compreender melhor por que o senhor e a maioria dos especialistas que estudaram o projeto afirmam que esta obra é ruim também do ponto de vista técnico.
Bermann – Divulgaram que esta será a única usina do Xingu. Inclusive, houve um seminário recente aqui na USP em que tive a oportunidade de discutir com o Mauricio Tolmasquim (presidente da Empresa de Pesquisa Energética, ligada ao Ministério de Minas e Energia). E ele veio com essa ladainha: “Vai ser a única...”. E eu disse a ele: “Com o perdão do poeta, o que você está afirmando, somente de papel passado, com firma em cartório e assinado: Deus”.

- O senhor não acredita que será a única usina do Xingu, então?
Bermann – Me diga alguma coisa no nosso país que vigorou como cláusula pétrea. Me fale alguma coisa aqui no nosso país que foi dito de uma forma e se manteve ao longo do tempo. VAI ser necessário construir outras usinas. No atual projeto, esta é uma usina que vai funcionar à plena carga, no máximo, quatro meses por ano, por causa do regime hidrológico. Se ela estiver sozinha, o volume de água para rodar as turbinas dependerá da quantidade de chuva. E aquela região tem a seguinte característica: quando chove, quando tem água, quando desce a água dos tributários para o Xingu é muita água, é um volume enorme de água. Mas isso só acontece durante quatro meses por ano. Só nesse período os 11.200 megawatts vão estar operando. Em outubro, na época da estiagem, será apenas 1.100 megawatts, um décimo. Então, a pergunta é: por que construir uma usina desse porte, se, na média anual, ela vai operar com 4.300 megawatts? Necessariamente vão vir as outras quatro. Eu estou afirmando isso, infelizmente. Tecnicamente, eu tenho absoluta certeza. Porque as usinas rio acima vão segurar a água e aí Belo Monte não vai depender da quantidade de chuva. É o único jeito dessa potência instalada de 11.200 megawatts existir de fato.
“O conceito do governo e das empresas não é o de população atingida, mas o de população afogada"
Célio Bermann
- O senhor está dizendo que o governo federal está mentindo ao afirmar que será apenas uma usina, para conseguir vencer as resistências ao projeto e aprová-la, e depois fará mais três ou quatro?
Bermann – Estou dizendo que, da forma como esta usina está colocada, é uma aberração técnica tão grande que é totalmente ilógico construí-la.

- E essa afirmação, discutida hoje na Justiça, de que os povos indígenas não serão atingidos?
Bermann –
A noção que as empresas e o governo federal têm é a noção de população afogada – e não atingida. 

- Agora, digamos que nós concordássemos que a obstinação de construir Belo Monte, ainda que atropelando a população e talvez a Constituição, se devesse à necessidade de energia elétrica. E digamos que Belo Monte fosse de fato um projeto de engenharia viável e inteligente. As usinas hidrelétricas são as melhores opções para a geração de energia no Brasil de hoje? Quais são as alternativas a elas?
Bermann – Não podemos olhar a questão da produção de energia sem questionar ou considerar o outro lado, que é o consumo de energia. Parece meio prosaico, porque envolve hábitos culturais da população. E a população sempre entendeu que energia elétrica se resume a você apertar o botão e ter eletricidade disponível. E por isso fica em pânico com a “Síndrome do Blecaute”. Mas é preciso pensar além disso. Não estou dizendo para fechar as fábricas de alumínio, de aço e de celulose no Brasil. O que estou dizendo é o seguinte: parem de ampliar a produção. Parem, porque diversos países desenvolvidos já fizeram isso. O Japão fez mais do que isso. O Japão produzia, em 1980, 1,6 milhões de toneladas de alumínio. Nós estamos produzindo quase 1,7 milhões de toneladas hoje. Só que a energia elétrica necessária para produzir alumínio tornou-se da ordem do absurdo. Então o governo japonês, as empresas japonesas produtoras de alumínio e os trabalhadores da indústria do alumínio realizaram um debate que culminou com o fechamento de todas as usinas de produção de alumínio primário no Japão, exceto uma. Isso ainda nos anos 80. Hoje, o Japão produz apenas 30 mil toneladas. De 1,6 milhões para 30 mil toneladas. Diante da necessidade de gerar muita energia para produzir alumínio, o que o Japão fez? O governo e a sociedade japonesa disseram: “Vamos priorizar a eficiência, o maior valor agregado. Nós não precisamos produzir aqui. Tem o Brasil, tem a Venezuela, tem a Jamaica, tem os lugares para onde a gente pode transferir as plantas industriais e continuar a assegurar o suprimento para a nossa necessidade industrial. A gente pega esse alumínio, agrega valor e exporta na forma de chip. Parece uma coisa tão besta, né? Mas foi isso o que os japoneses fizeram. Eles mantiveram o crescimento econômico e reduziram a demanda por energia. Nós estamos caminhando no sentido inverso. Estamos aumentando o consumo de energia a título de crescimento e desenvolvimento, e, numa atitude absolutamente ilógica, porque a gente exporta hoje a tonelada de alumínio a US$ 1.450, US$ 1.500 dólares. E, para se ter uma idéia, hoje falta esquadrias de alumínio no mercado interno, no mercado de construção brasileiro. O preço foi aumentado por indisponibilidade. Hoje, e fizemos um estudo recente sobre isso, é preciso importar esquadrias de alumínio porque a oferta no mercado interno é insuficiente. E, enquanto o Brasil exporta o alumínio por US$ 1.450, US$ 1.500, o preço da tonelada de esquadria importada é o dobro: cerca de US$ 3 mil a tonelada.

- Para o senhor, a questão de fundo é outra...
Bermann - Nós temos pouca capacidade de produzir alumínio com valor agregado. Então, não estou dizendo para fechar essas fábricas, botar os trabalhadores na rua, mas dizendo para parar de produzir alumínio primário, que exige uma enorme quantidade de energia, e investir no processo de melhoria da matéria-prima para satisfazer inclusive a demanda interna hoje insatisfeita. Agora, vai perguntar isso para a ABAL (Associação Brasileira de Alumínio). Veja se eles estão pensando dessa forma. Billiton, Alcoa, mesmo o sempre venerado Antônio Ermírio de Moraes, com a Companhia Brasileira de Alumínio. A perspectiva desse pessoal é a cega subordinação ao que define hoje o mercado internacional, o mercado financeiro. E é assim que o nosso país fica desesperado com a idéia de que vai faltar energia. 
Não é Programa Luz para Todos, mas Luz para quase Todos ou Conta de Luz para Todos"
Célio Bermann
- Além de ser um modelo de desenvolvimento que prioriza a exportação de bens primários, sem valor agregado, é também um modelo de desenvolvimento que ignora o esgotamento de recursos. Enquanto tem, explora e lucra. Alguns poucos ganham. O custo socioambiental, agora e no futuro, será dividido por todos...
Bermann – Isso. Os recursos naturais são limitados. Por isso, no meu ponto de vista, a discussão do aquecimento global obscurece o entendimento da hidroeletricidade em particular. Ficamos às cegas. Para transformar o barro da bauxita naquele pó branco do alumínio, que depois é fundido através de uma corrente elétrica, é uma quantidade de energia enorme, absurda. Essa possibilidade você não vai conseguir com energia solar, com energia eólica. São processos produtivos que exigem a manutenção do suprimento de energia elétrica 24 por 24 horas. A solar não consegue fazer isso na escala necessária. Uma tonelada de alumínio consome 15 a 16 mil kilowatts/hora. Para se ter uma idéia, na média, o consumidor brasileiro consome, por domicílio, 180 kilowatts/hora por mês, o que é baixo. Nós ainda estamos vivendo uma situação muito próxima da miserabilidade em termos energéticos para a população. Nós temos uma demanda a ser satisfeita com equipamentos eletrodomésticos. Satisfeita não construindo grandes usinas hidrelétricas para as empresas eletro intensivas, mas para conseguirmos equilibrar a qualidade de vida, que se deve fundamentalmente a uma herança histórica: a de sermos um dos países com a pior distribuição de renda do mundo. 

- Uma das piores distribuições de renda e uma das piores distribuições de eletricidade do mundo...
Bermann – Eu chamo o programa de universalização de "Luz para quase todos". Não é para todos, é para quase todos. Desde que estejam próximos da rede para extensão, tudo bem. Mas, para o sujeito distante, só agora é que se começa a pensar em sistemas de produção descentralizada. A percepção ainda é, infelizmente, de pegar e estender a rede. Mas o custo de extensão da rede é muito alto. Principalmente, se você pegar e atravessar 15 quilômetros para atender duas, três casas. O lógico seria a adoção de energia descentralizada em escala menor, que seja mais bem controlada pela população. Mas isso não passa pela cabeça porque define inclusive uma outra relação social. Eu também chamo esse programa de “Conta de luz para todos”, porque de repente você fica refém de uma companhia e necessariamente paga conta de luz, quando você poderia criar uma situação de autonomia energética. 

- O senhor poderia explicar melhor quais são as alternativas para a população, já que todos nós crescemos dentro de uma lógica em que recebemos a conta da luz e pagamos a conta da luz; apertamos um botão na parede e a luz se faz. A realidade está exigindo que sejamos mais criativos e tenhamos mais largura de raciocínio. Quais são as alternativas para o cidadão comum, especialmente o de regiões mais afastadas?
Bermann – Depende muito do acesso à tecnologia existente no local ou na região. Hoje, por exemplo, temos no Rio Grande do Sul uma experiência de queimar casca de arroz para gerar energia. O calor da queima da casca de arroz aquece a água, a água se transforma em vapor e esse vapor é injetado num tubo e gira uma turbina produzindo energia elétrica. Não tem nada de fantástico nisso, esse processo é conhecido há muito tempo, mas, puxa vida, eu estou tão acostumado a simplesmente acender e apagar o botão... Vou ficar agora me preocupando se tem combustível? Existe um lado meio trágico da população em geral que é o comodismo: deixa que resolvam por mim. Então, quando você me pergunta sobre alternativas, depende do que a gente está falando. Existem alternativas promissoras deixando de produzir mais mercadorias eletro intensivas. Como também é promissor ter esquemas de financiamento para que o pequeno empresário adquira um painel fotovoltaico (placa que transforma luz solar em energia elétrica) ou uma usina de geração eólica (transformação de vento em energia elétrica). E use essa tecnologia que está disponível para satisfazer as suas necessidades, sem necessariamente ficar ligado a uma grande linha de transmissão, de distribuição, puxando energia não sei de onde. 

- O que o senhor diria para a parcela da população brasileira que faz afirmações como estas: "Ah, se não construir Belo Monte não vai ter luz na minha casa", ou "Ah, esses ecochatos que criticam Belo Monte usam Ipad e embarcam em um avião para ir até o Xingu ou para a Europa fazer barulho". O que se diz para essas pessoas para que possam começar a compreender que a questão é um pouco mais complexa do que parece à primeira vista?
Bermann – Não é verdade que nós estamos à beira de um colapso energético. Não é verdade que nós estamos na iminência de um “apagão”. Nós temos energia suficiente. O que precisamos é priorizar a melhoria da qualidade de vida da população aumentando a disponibilidade de energia para a população. E isso se pode fazer com alternativas locais, mais próximas, não centralizadas, com a alteração dos hábitos de consumo. É importante perder essa referência que hoje nos marca de que esse tipo de obra é extremamente necessário porque vai trazer o progresso e o desenvolvimento do país. Isso é uma falácia. É claro que, se continuar desse jeito, se a previsão de aumento da produção das eletro intensivas se concretizar, vai faltar energia elétrica. Mas, cidadãos, se informem, procurem pressionar para que se abram canais de participação e de processo decisório para definir que país nós queremos. E há os que dizem: “Ah, mas ele está querendo viver à luz de velas...”. Não, eu estou dizendo que a gente pode reduzir o nosso consumo racionalizando a energia que a gente consome; a gente pode reduzir os hábitos de consumo de energia elétrica, proporcionando que mais gente seja atendida, sem construir uma grande, uma enorme usina que vai trazer enormes problemas sociais, econômicos e ambientais. É importante a percepção de que, cada vez que você liga um aparelho elétrico, a televisão, o computador, ou a luz da sua casa, você tenha como referência o fato de que a luz que está chegando ali é resultado de um processo penoso de expulsão de pessoas, do afastamento de uma população da sua base material de vida. E isso é absolutamente condenável, principalmente se forem indígenas e populações tradicionais. Mas também diz respeito à nossa própria vida. É necessário ter uma percepção crítica do nosso modo de vida, que não vai se modificar amanhã, mas ela precisa já estar na cabeça das pessoas, porque não é só energia, é uma série de recursos naturais que a gente simplesmente não considera que estão sendo exauridos e comprometidos. É necessário que desde a escola as crianças tenham essa discussão, incorporem essa discussão ao seu cotidiano. Eu também tenho uma dificuldade muito grande de chegar aqui na minha sala e não ligar logo o computador para ver emails, essas coisas. Confesso que tenho. Mas eu também percebo uma grande satisfação quando eu consigo não fazer isso. E essa percepção da satisfação é uma coisa cultural, pessoal, subjetiva. Mas ela precisa ser percebida pelas pessoas. De que o nosso mundo não existe apenas para nos beneficiarmos com essas "comodidades" que a energia elétrica em particular nos fornece. Agora isso exige um esforço, e a gente vive num mundo em que esse esforço de perceber a vida de outra forma não é incentivado. Por isso é difícil. E por isso, para quem quer construir uma usina, quer se dar bem, quer ganhar voto, quer manter a situação de privilégio, seja local ou nacional, para essas pessoas é muito fácil o convencimento que é praticado com relação a essas obras. Por mais que eu tenha sempre chamado a atenção para o caráter absolutamente ilógico da usina, das questões que envolvem a lógica econômico e financeira dessa hidrelétrica, para o absurdo que é a utilização do dinheiro público para isso, para a referência à necessidade de se precisar, num futuro próximo, enfrentar um ritmo violento de custo de vida, emitindo moeda para sustentar empreendimentos como esse, é muito difícil fazer com que as pessoas compreendam a relação dessa situação com as grandes obras. E Belo Monte é mais um instrumento disso. Eu não sou catastrofista, não tenho a percepção maléfica da hidroeletricidade. Não demonizo a hidroeletricidade. Eu apenas constato que, da forma como ela é concebida, particularmente no nosso país nos últimos anos, é uma das bases da injustiça social e da degradação ambiental. Se não é pensando em você, você necessariamente vai precisar pensar nas gerações futuras. Este é o recado para o leitor: é preciso repensar a relação com a energia e o modelo de desenvolvimento, é preciso mudar o nosso perfil industrial e também é preciso mudar a cultura das pessoas com relação aos hábitos de consumo. Nós precisamos mudar a relação que nos leva a uma cega exaustão de recursos. 
Em Brasília há um vírus letal que se chama ‘Brasilite’. É um verme que entra pelo umbigo e faz com que a pessoa se ache o centro do universo"
Célio Bermann
- O senhor acha que a Dilma tem essa obstinação com Belo Monte, em parte, por teimosia?
Bermann -
Ela é muito cabeça dura. 

- Às vezes eu acho que as questões subjetivas têm um peso maior do que a gente costuma dar. Não sei...
Bermann - É, mas eu também não sei, não tenho nenhuma proximidade maior com o que ela está pensando agora. O que eu sei é que, no dia a dia, lá no ministério, ela demonstrava uma capacidade muito reduzida de ouvir. Ela pode até ouvir, mas as coisas na cabeça dela já estão postas. 

- Por que o senhor saiu do governo em 2004?
Bermann - Porque venceu o contrato, e eu achei que não valia a pena continuar. Há conhecidos meus que foram na mesma época que eu e estão até hoje em Brasília. Não estão mais no ministério, mas estão em Brasília. Acho que Brasília é uma cidade com um vírus letal, que é a "Brasilite". A "Brasilite" se compõe de um verme que entra no umbigo e toma a barriga da pessoa de forma a ela achar que é o centro do universo. A partir daí, mudam as relações pessoais, o que a pessoa era e o que ela passa a ser. Eu mesmo perdi muitos amigos que começaram a empinar o queixo. Fazer o quê? E isso faz parte do “modus vivendi” brasiliense. Basta você ter um terno e uma gravata que você é doutor. Eu acho que a gente não vai muito longe alimentando isso. 

- O senhor participou da elaboração do programa de Lula na campanha de 2002 e participou do primeiro ano de governo. Está desiludido?
Bermann – Eu não aceito quando me definem como: "Ah, você também é daqueles que estão desiludidos, estão chateados...". Tem essa conotação, né? Em absoluto. Eu não estou desiludido, chateado, bronqueado. Eu estou indignado! 

- Quando o senhor se desfiliou do PT?
Bermann – Ah, quando o bigode do Sarney estava aparecendo muito nas fotos. 

Gabinete de José Sarney divulga resposta à colunista ElianeBrum (31/10/11 – 20:20h)