2. Quanto se deixa de aplicar na saúde (bola da vez, moeda de
troca entre políticos) com a redução dos investimentos?
Dia 13 de setembro, completou 11 anos a Emenda Constitucional 29 (EC 29), que criou vinculações orçamentárias para a Saúde.
(...)
Diga-se que, a partir da EC 29, a CPMF e a Saúde divorciaram-se. A obrigação do
governo federal passou a ser a de cobrir o financiamento mínimo do setor,
independentemente das origens dos recursos. Por isso, o sumiço da CPMF em 2008
não retirou recursos da Saúde.(...)
(...)Se
fosse verdadeira a
intenção de reforçar o setor, em vez tentar renovar a CPMF, o governo Lula
poderia ter aprovado rapidamente o projeto de lei complementar já citado,
contendo um tributo só da Saúde. Ou poderia ter destinado a ela parte do
Imposto sobre Operações Financeiras, cujas alíquotas foram aumentadas, a fim de
compensar a perda da CPMF. A receita do IOF subiu quatro vezes de 2007 até
2011, quando será de R$ 30 bilhões. Um terço disso teria elevado bastante os
recursos federais para a Saúde. Mas essa não foi a prioridade de Lula e do PT,
nem antes nem depois. Desde 2002, as despesas federais na área cresceram abaixo
das receitas correntes.
O projeto de lei que está
para ser votado na Câmara de Deputados tem várias coisas positivas, entre elas,
a que impede os governos de contabilizarem no item Saúde gastos de segurança,
alimentação, lixo, asfalto, etc. Devido esse expediente fraudulento, metade dos
estados, hoje, não cumpre a EC-29. Mas dois dispositivos financeiros merecem
reparos. O projeto retira da base de cálculo da despesa mínima estadual para a
Saúde os recursos do FUNDEB, da Educação. Isso cortaria em mais de R$ 7 bilhões
os gastos obrigatórios dos estados no setor! Paralelamente, cria-se a
Contribuição Social para a Saúde, uma CPMF de 0,1%, que renderia uns 14 bilhões
de reais/ano. Mas, desse total, 20% seriam descontados por conta da DRU. Assim,
cerca de dois terços da CSS serviria aos
tesouros nacional e estaduais, a pretexto da Saúde!
Note-se que, desde 2002, a
carga tributária no Brasil aumentou em torno de três pontos percentuais do PIB;
o gasto federal aumentou em 80% reais. Ao longo de 2011, a receita tributária
federal cresceu três vezes mais do que o PIB. Será que as distorções de
prioridades, o descaso sobre eficiência e redução de custos e os desperdícios e
desvios têm sempre de ser compensados com aumento ainda maior de tributos?(...)
(...)E o que dizer sobre a
qualidade dos gastos federais? Dois pequenos exemplos: cerca de R$ 700 milhões
poderiam ser destinados à Saúde com o simples cancelamento do projeto executivo
do trem-bala, essa grande alucinação ferroviária; outro tanto poderia ser
obtido cortando despesas com boa parte das ONGs e festas municipais, no âmbito
do Turismo, item escabroso em desvio de recursos. E pode-se permitir, sim, que
iguais montantes virem emendas para a Saúde, de forma criteriosa e controlada.
Em suma, trata-se de governar com prioridades claras, determinação e, é claro!,
com rumos, sabendo-se o que ser quer.
Fonte
referencia: A doença financeira da saúde – José Serra, Estadão - 08 agosto 2011 http://www.joseserra.com.br/archives/1442#.Tmo0UboxbqA.facebook
3. O Brasil e a crise: estresse, não catástrofe.
(...) Nunca antes na
história deste país os preços das exportações brasileiras cresceram tanto
durante um período tão prolongado.
O estilo de
desenvolvimento brasileiro tem combinado aspectos curiosos. O sistema
financeiro privado é relativamente sólido. A taxa de juros é a mais alta do
mundo, não obstante os riscos de crédito e câmbio terem declinado. A enorme
diferença entre os juros domésticos e os internacionais apreciou a taxa de
câmbio como em nenhum outro país, prejudicando as exportações de manufaturados
e favorecendo suas importações. A carga tributária é a maior dos países
emergentes, mas a poupança governamental é baixa. A taxa de investimentos é
pequena em razão dessa reduzida poupança e da falta de oportunidades
(rentáveis) de investimentos do setor privado, principalmente na indústria. O
consumo se expandiu a um ritmo bem superior ao do PIB. Há uma marcha forçada de
desindustrialização em razão do câmbio e da carga tributária. O saldo da
balança comercial tem caído apesar do “boom” de preços, e o déficit em
conta-corrente cresceu rapidamente, junto com o passivo externo do país. Devido
aos juros muito altos e ao real supervalorizado, vão se multiplicando os
subsídios fiscais ao setor privado, sem planejamento nem controle da eficácia.
Em suma, trata-se de um “modelo” de crescimento que não é sustentável por muito
tempo, embora, a curto prazo, exiba indicadores razoáveis de emprego, renda e
consumo, além de bons negócios nas áreas financeira e de commodities.
Fonte
referencia: A doença financeira da saúde – José Serra, Estadão - 11 agosto 2011 http://www.joseserra.com.br/archives/artigo/o-brasil-e-a-crise-estresse-nao-catastrofe
4. Nossos economistas sabem o que fazem? De onde vem o
planejamento futuro do governo?
O que tem exacerbado o
vigor da sobrevalorização cambial no Brasil é um fator, digamos, endógeno:
nossa taxa de juros é a maior do mundo em termos reais. Ela é cinco ou seis
vezes maior do que a taxa média dos países emergentes, sem mencionar as dos
centros desenvolvidos, onde é zero ou negativa. Esse é um poderoso motor de
sucção de dólares: faz-se dinheiro fácil no paraíso financeiro brasileiro.
Querem um exemplo? Entre
janeiro e maio deste ano, as filiais de multinacionais brasileiras emprestaram
para suas matrizes U$16,5 bilhões, mais do que em todo o ano passado e cinco
vezes o montante registrado em igual período de 2010. Já as matrizes das
multinacionais estrangeiras mandaram para suas filiais no Brasil dez vezes mais
do que o fizeram no ano passado, no mesmo período janeiro-maio. A troco de quê,
senão para faturar com os juros mais altos do mundo? E como as autoridades
econômicas vão controlar e impedir esses fluxos intercompanhias?
Fonte
referencia: Um país ensanduichado – José Serra, O Globo - 03 agosto 2011 http://www.joseserra.com.br/archives/artigo/um-pais-ensanduichado
5. O que acontece com o país ao adotar barreira protecionista ao
aumentar IPI dos carros importados? Quem está lucrando com isso? A não construção
de novos postos de trabalho, fábricas, revendas, assistência técnica preocupa o
governo?
A construção de novas plantas e revendas de carros
importados (menos de 7%) não impactará na redução de mão de obra e
lucratividade nas apadrinhadas montadoras pseudo-nacionais. Alguém já tentou calcular
a produção de veículo nacional para justificar o preço final?
Usamos (cidades vizinhas a
Vitória, capital do estado) sistema de preço único e terminais iguais ao sul do
país, porém o
aumento de uso de carros particulares está diretamente relacionado ao lotado, despreparado, desorganizado, lento,
serviço público de transporte coletivo. Falta profissionais na área de
logística, mobilidade, gerenciamento, pois os engarrafamentos são fáceis de
perceber, mas difíceis de serem corrigidos pelos gestores.
O decreto que aumenta o
IPI em 30 pontos percentuais é prejudicial ao consumidor. “A medida é um duro
golpe no consumidor, motivado pelo lobby da indústria automobilística. O
governo adotou uma postura intervencionista, prejudicando principalmente a
classe média, que vai comprar carro mais caro”, explica o deputado federal Mendonça
Filho (DEM-PE).
De acordo com o deputado: “Os
preços de carros no Brasil são um dos mais altos do mundo. Mesmo quando se
exclui a carga tributária, as margens no País ainda figuram entre as mais
caras”, explica, acrescentando que o preço dos automóveis no Brasil é 130%
superior que o praticado nos Estados Unidos, 94% mais caro que o do México e
74% maior que o da Argentina.
Fonte
referencia: http://economia.uol.com.br/ultimas-noticias/infomoney/2011/09/20/deputado-cria-projeto-para-proibir-aumento-de-ipi-para-veiculos-importados.jhtm
- UOL, 20 agosto 2011
E concluo:
Onde erramos? Ainda continuamos a errar.
Existe saída? A luz no fim do túnel não é a saída mas uma locomotiva que vem acabar com o Brasil assim que não tivermos mais riquezas, e deixarmos de ser rendáveis aos que aqui governam.
Sugiro audio e leitura complementar de:
Deputados devem aprovar Emenda 29 – Monica Bergamo – http://www.band.com.br/noticias/colunas/podcast.asp?colunista=82&podcast=526594 – 2 setembro 2011
Deputados devem aprovar Emenda 29 – Monica Bergamo – http://www.band.com.br/noticias/colunas/podcast.asp?colunista=82&podcast=526594 – 2 setembro 2011
Saiba qual é o índice de preços no varejo – Monica
Bergamo – http://www.band.com.br/noticias/colunas/podcast.asp?colunista=82&podcast=528184 – 6 setembro
2011
Os sistemas
Tributários de Brasil, Rússia, China, Índia e México: Comparação das
Características Gerais
Marcos J. Mendes – outubro de 2008 – ISSN 1983-0645.
Disponível em http://www.senado.gov.br/conleg/textos_discussao.htm
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